
"Não aguento mais!" ou "Só quero desistir!” são desabafos comuns de quem atingiu ou ultrapassou o seu limite, relativamente ao seu contexto de trabalho. Atinge-se um estado tal de rejeição e incapacidade para o trabalho, que resulta num conjunto de sintomas ao qual se chama Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional.
Esta síndrome não deve ser confundida com stress laboral, é muito mais do que isso. Frequentemente, a primeira é consequência do segundo, ou seja, quando o stress aumenta e se torna crónico, é possível que evolua para um quadro de burnout. O stress laboral manifesta-se através de um envolvimento excessivo nas questões profissionais e hiperatividade emocional, enquanto que na síndrome de burnout ocorre um desligamento, um afastamento da esfera laboral e esgotamento emocional.
Este conceito foi definido, pela primeira vez, em 1974 e tem vindo a sofrer transformações, ao longo do tempo. Mas só a partir de 1 de janeiro de 2022, foi oficialmente reconhecido como um problema de saúde ocupacional, pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2019), entrando em vigor na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11). O Burnout não é uma doença mental, mas um problema de saúde associado exclusivamente ao contexto laboral. Entende-se, atualmente, que “o burnout é uma síndrome conceptualizada como resultante do stress crónico no local de trabalho que não foi gerido com sucesso” (CID-11). De acordo com a CID-11, a síndrome é caracterizada por três dimensões:
sensação de esgotamento, de exaustão física e emocional - o trabalho passa a ser visto como algo penoso e doloroso;
Despersonalização/ desumanização - aumento da distância mental do trabalho e/ou contactos mais impessoais e pouco empáticos nas diferentes interações laborais (barreiras emocionais - negativismo, cinismo);
Baixa realização profissional - descontentamento e desmotivação com o trabalho, que conduzem à de perda de sentido e interesse, comprometendo, muitas vezes, a eficácia.
Uma pessoa pode sofrer um conjunto amplo de sintomas, que se manifestam dentro e fora da esfera profissional e organizam em três categorias: Psicológicos (afetivos e cognitivos), Físicos e Comportamentais.
Se está em burnout, poderá identificar-se com os seguintes sinais:
Não ter energia mesmo depois de ter descansado/ problemas de sono;
Chegar muitas vezes atrasado ao trabalho e o atraso ser cada vez maior;
“Não desligar” / Só pensar no trabalho;
Viver em “piloto automático” (ex.: chegar a casa e não se lembrar do caminho);
Bloqueio de memória (ex.: não se lembrar do que ia dizer a meio do discurso)/ dificuldade de concentração (ex.: ter de repetir a mesma tarefa várias vezes);
Negligenciar as relações sociais e familiares/ “Não ter tempo” para estar com os amigos/ Irritabilidade e impaciência a lidar com os filhos.
Esta problemática tem tratamento, aliás, a ajuda de um profissional de saúde é fundamental. A ausência de uma intervenção adequada, frequentemente evolui para quadros mais graves como depressão, com ou sem comportamentos de risco (dependências, atos negligentes, tentativa de suicídio…), apresentando uma forte tendência para tornar-se crónico. Pedir ajuda ao médico de família pode ser o primeiro passo, caso não se sinta confortável em procurar logo apoio psicológico, mas saiba que a base do tratamento passa por este tipo de ajuda. Em alguns casos, poderá ser necessária a intervenção psiquiátrica, para gerir a toma de medicação específica.
Sabia que, em Portugal:
se apurou que 50,6% dos trabalhadores estão em elevado risco de burnout? (2023)
foi possível identificar que quase 80% dos trabalhadores apresenta pelo penos um sintoma de burnout (como irritabilidade, tristeza, exaustão e cansaço extremo), mas 63% afirmaram mesmo ter três ao mesmo tempo? (2023)
TRABALHE MENOS, PELA SUA SAÚDE!
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